quinta-feira, 5 de abril de 2007

Conversas com um Matemático chamado Gregory Chaitin

Um dos matemáticos mais importantes dos últimos tempos esteve em Lisboa para apresentar o seu livro: "Conversas com um Matemático". Editado em português pela Gradiva, este livro apresenta a beleza da Matemática com a linguagem coloquial de Gregory Chaitin.
O homem que em criança devorava livros de física e matemática, que aos 15 anos entrou na Universidade e que aos 18 publicou o seu primeiro artigo científico, ficou radiante por um país como Portugal, com uma tradição mais humanística do que científica, o ter convidado para a apresentação da sua mais recente obra. Gregory Chaitin é um nome pouco conhecido entre nós, mas foi aqui que pela primeira vez se fez um lançamento formal de um dos seus livros. Foi assim que o matemático iniciou a sua apresentação: "Quero felicitar-vos porque Portugal é o sítio onde o meu livro foi publicado da maneira como sempre sonhei: por uma editora grande e não por pequenas editoras especializadas, e também porque nunca tive a oportunidade de estar numa livraria com pessoas a assistir à apresentação do meu livro desta forma. E isso aconteceu aqui em Portugal."
A apresentação do livro, bem como o prefácio da edição portuguesa, tiveram a assinatura de Nuno Crato, que considera Gregory Chaitin como "um dos verdadeiros génios da matemática do século XX e XXI e por isso é extraordinário tê-lo cá e é um daqueles homens que vai ficar na história da matemática. É um matemático que tem feito um trabalho especial, tem-se dirigido aos fundamentos da matemática é isso que o preocupa, e o que ele faz é o estudo da lógica da matemática com auxílio da teoria da computação. A teoria da computação hoje em dia é lógica-matemática é isso que ele faz."
Para se perceber a importância deste cientista basta olhar para os cinco marcos fundamentais do desenvolvimento da lógica e do pensamento matemático do século XX: Chaitin é o autor de dois desses marcos.
Estudou em Nova Iorque numa altura em que se apostou na educação científica para fazer face ao avanço dos soviéticos, quando estes lançaram o Sputnik, o primeiro satélite artificial do mundo. Devorou todo o conhecimento que conseguiu, mas esteve apenas um ano na Universidade, porque um emprego como programador levou-o a permanecer uma década em Buenos Aires. Hoje trabalha num consagrado centro de investigação da IBM, em Nova Iorque, e deixa transparecer uma mente cheia de ideias e projectos. À seriedade com que encara o trabalho, junta-se a alegria de viver que herdou dos sul-americanos. A matemática continua a ser uma paixão e só tem pena que seja uma música que poucos conseguem ouvir. Para Chaitin a falta de interesse dos jovens pela disciplina tem explicação: "A Matemática é ensinada com demasiado detalhe. Eu penso que se nos concentrarmos nas ideias maravilhosas, nas ideias básicas, na história das ideias e no papel que a Matemática representa na Ciência ou na Filosofia, então ela torna-se parte de se ser intelectual, volta-se atrás: a Pitágoras e Euclides, à Grécia Antiga e fala-se de Leibnitz e Descartes, filósofos que pensaram que a Matemática tinha um papel a desempenhar. Se apresentarmos a Matemática desta forma vê-se que ela não é apenas uma ferramenta mecânica para se fazer cálculos, mas parte do pensamento humano e uma parte importante do desenvolvimento intelectual humano. Assim poderia ser apreciada pelas pessoas."
Em "Conversas com um Matemático" Gregory Chaitin mostra a matemática como um mundo de ideias, um ponto de vista, uma forma de compreender as coisas. O cientista espera que os portugueses comecem a apreciar a beleza da disciplina que retrata nas suas obras, pois já traz na mala o rascunho do próximo livro.

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